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"O bom do livro é que quando ele acaba continua cheio e a gente pode ler de novo" (Joaninha,3 anos)

domingo, 6 de julho de 2014

A opção pela morte



A opção pela morte é um direito que a hipócrita sociedade e o onipresente Estado condenam, mas para exasperação de ambos não pode ser punida. O homem pode escolher o momento de bater a porta e sair e embora o assunto seja quase um tabu essa possibilidade, esse poder concedido a todos que tenham suficiente inteligência, clareza de pensamento sem a contaminação de doutrinas, regras, conceitos alheios, tem um imenso poder de alívio, de moderação, de força para seguir adiante debaixo das intempéries mais cruéis impostas pelo viver consciente e paradoxalmente não escolher -nos piores momentos- a morte. Esta opção fica -aos pensantes- para os momentos de calmaria após as tempestades, muitas tempestades que aos poucos foram encharcando até aos ossos do custo-benefício racional, determinantes na resposta ao mestre de cerimônias que rege o tempo decorrido e o restante:

E então, você para ou continua?!

O encharcado humano que escolhe continuar é saudado pelos comodamente secos que o cercam com movimentos afirmativos de cabeça, aplausos, tapinhas nas costas. Depois todos se afastam com seus largos guarda-chuvas e o pobre esquecido continua ali, com a água do abandono, da inutilidade a escorrer pelos cabelos… O que grita claro e forte, pois nesta opção não há titubeio – eu paro!- provoca a fúria da plateia, recebe uma avalanche de vaias, apupos que nada mais são que mãos estendidas para segurar a presa que lhes escorrega entre os dedos, escapa com a mordida dolorosa da contestação:

-idiotas, eu apenas estou indo à frente, logo me seguirão…

O que são 10, 20, 80 anos num tempo infinito? Nossa diferença para os efemerópteros, que não duram mais que 24 horas é que somos dotados com um cérebro usado apenas para negar essa evidência mais que constatada. E o tempo de vida de ambos -humanos e insetos- proporcionalmente ao universo, pode ser considerado para um observador distante e isento como absolutamente igual.

Portanto, use sua vida com audácia, brilho e independência total dos homens e dos deuses com a consciência, com a tranquilidade de saber que não existem contratos assinados, que sua permanência no recinto deste planetinha só depende de sua vontade. Se o espetáculo não agradar, sair é um direto seu, ato que só é execrado pelos covardes e irracionais porque, sempre correndo ao lado dos ridículos pretensos vencedores de alguma coisa em vida, adornados com louros na cabeça, a realidade lhes sussurra continuadamente aos ouvidos:

-você é apenas… um cadáver adiado que procria!


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